João Neutzling Jr

60 anos do golpe de 64

João Goulart (1919-1976) foi eleito presidente do País, tomando posse em 1961. Goulart tinha por meta uma política desenvolvimentista e queria tirar o Brasil da esfera de influência do EUA de modo que nossa política externa fosse voltada aos nossos interesses e não como satélite da potência dominante.

Na sua agenda constavam as chamadas reformas de base que incluíam a reforma agrária, reforma educacional (baseada no modelo de Paulo Freire), reforma tributária que incluía limite à remessa de lucros das multinacionais, entre outras.

Há 60 anos, em 31 de março, um grupo de militares aliados a burguesia industrial e financeira deram um golpe de estado derrubando a democracia e implantando uma ditadura de 21 anos.

Logo começaram as cassações dos direitos políticos, prisões arbitrárias e violações dos direitos humanos.

Porém, o pior ainda estava por vir.

O Ato Institucional nº 5 (de 13/12/1968) foi assinado por Costa e Silva e foi o auge da repressão e desrespeito aos direitos humanos. Em síntese o AI 5 permitiu:

a) cassar os mandatos legislativos, executivos, federais, estaduais e municipais;

b) suspender os direitos políticos dos cidadãos, demitir, remover, aposentar funcionários civis e militares;

c) decretar estado de sítio sem restrições ao País;

e) legislar por decreto e baixar outros atos institucionais completares.

g) extinção do habeas corpus (liberdade provisória enquanto responde ao processo) aos acusados de crimes contra a segurança nacional; entre outras medidas.

De acordo com a Comissão Nacional da Verdade de 2011, que investigou os crimes da ditadura, cerca de 450 pessoas foram assassinadas pelos militares. E, segundo a organização a Human Rights Watch, cerca de 20 mil pessoas foram torturadas no período da ditadura. Para maiores informações recomenda-se a leitura da obra "Brasil nunca mais" (1985, ed. Vozes, org. por Dom Paulo Evaristo Arns).

No lado da economia, a dívida externa brasileira que em 1964 era de US$ 3,3 bilhões passou para US$ 105,17 bilhões em 1985, ou seja, um aumento de 3.086%!

No lado positivo, em 1964 o Brasil era o 45º PIB do mundo e em 1985 pulou para a 10ª posição.

Mas o crescimento econômico não beneficiou a todos. O então ministro da Fazenda Delfin Netto (governo João Figueiredo) costumava dizer que: "Temos que esperar o bolo crescer para depois dividir".

O grau de concentração de renda se agravou cada vez mais e o economista Celso Furtado observou: "A evolução das estruturas sociais, refletida na concentração de renda, denunciava aspectos ainda mais negativos da orientação tomada pelo desenvolvimento" (O Brasil pós-milagre, Ed. Paz e Terra, 8ª edição, p. 42)

E o próprio presidente Médici disse que "a economia do Brasil vai bem, mas o povo vai mal" (Revista Visão, 1974), pois sabia que o modelo de desenvolvido do País era concentrador de renda, ou seja, o País se industrializou, mas não houve melhoria na distribuição de renda para as classes sociais menos favorecidas.

Tanto é verdade que o índice de Gini, utilizado para medir a concentração de renda estava em 0,54 em 1960 (o coeficiente de Gini vai de 0 a 1, quanto mais perto de 1, mais desigual), pulou para 0,63 em 1980.

A inflação brasileira em 1963 foi de 80% ao ano, o que inflamou passeatas contra o governo Goulart. E, em 1985 foi de 224,65% ao ano.

Período controverso de nossa história e surpreende que alguém ainda possa defender uma ditadura repleta de crimes​

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